segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

MQN- Television in Full Color (1998)



        O filósofo, antorpólogo, historiador e teórico crítico da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin(1892-1940), revolucionou a narrativa histórica em seu texto "O Narrador" de 1933. Neste texto Benjamin discorre acerca de como a narrativa vem perdendo espaço no mundo moderno com o advento do romance e da informação. 

      Para ele o  romance é um gênero literário estritamente vinculado ao livro ao contrário da narrativa, que se baseia em relatos da experiência e no senso prático de se transmitir a sabedoria da experiência. “ O que distingue o romance das outras formas de prosa é que ele nem procede da tradição oral, nem a alimenta. Ele se distingue, especialmente, da narrativa. O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes. O romancista segrega-se. A origem do romance é o indivíduo isolado, que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações mais importantes e que não recebe conselhos nem sabe dá-los. Escrever um romance significa, na descrição de uma vida humana, levar o incomensurável a seus últimos limites”(Benjamin, Obras Escolhidas vol1 p. 201)  

         No que diz respeito à informação Benjamin afirma que esta se destacou com a consolidação da burguesia e é mais ameaçadora que o romance, pois esta faz com que o saber que vem de longe encontre menos ouvintes que a informação sobre algo próximo. O saber que vem de longe, mesmo que não fosse controlado pela experiência tinha uma autoridade válida; já a informação tem uma necessidade de verificação automática. “Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação (...) O extraordinário e o miraculoso são narrados com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação.”(BENJAMIN, p.203) 

    Podemos então perceber que a exatidão da informação e a solitude do romance são responsáveis pelo declínio da experiência de narrar e com isso pode-se responder de um certo modo o porque da "mudez"  da sociedade contemporânea em geral.

         Este então vem a ser o papel do narrador, que Benjamin associa metaforicamente com a figura do sucateiro, ou seja o catador de lixo das grandes cidades modernas que não deixa nada para trás, para não deixar nada se perder, pois sua própria sobrevivência depende das migalhas que este recolhe daquilo que a sociedade desprezou, os rastros que esta quis apagar.

         Jeanne Marie Gagnebin em seu texto Memória, História, Testemunho dá uma boa definição do narrador sucateiro de Benjamin: “Esse narrador sucateiro (o historiador também é um Lumpensammler) não tem por alvo recolher os grandes feitos. Deve muito mais apanhar tudo aquilo que é deixado de lado como algo que não tem significação, algo que parece não ter nem importância nem sentido, algo com que a história oficial não sabe o que fazer. O que são esses elementos de sobra do discurso histórico? A resposta diz Benjamin é dupla. Em primeiro lugar, o sofrimento, o sofrimento indizível que a Segunda Guerra Mundial levaria ao auge, na crueldade dos campos de concentração( que Benjamin, aliás, não conheceu graças a seu suicídio em 1940 quando foi capturado por tropas nazistas, enquanto fugia para os EUA juntamente com sua amiga Hannah Arendt. Arendt conseguiu embarcar, porém Benjamin preferiu se matar do que se render às forças nazistas. É bom lembrar que além de um haxixeiro de mão cheia Benjamin era judeu e de esquerda.). Em segundo lugar, aquilo que não tem nome, aqueles que não têm nome, o anônimo, aquilo que não deixa nenhum rastro, aquilo que foi tão bem apagado que mesmo a memória de sua existência não subsiste- aqueles que desapareceram tão por completo que ninguém lembra de seus nomes. Ou ainda: o narrador e o historiador deveriam transmitir o que a tradição, oficial ou dominante, justamente não recorda. Essa tarefa paradoxal consiste,então, na transmissão do inenarrável, numa fidelidade ao passado e aos mortos, mesmo- principalmente- quando não conhecemos nem seu nome nem seu sentido”. (GAGNEBIN, p.54)

    Mas então? O que diabos (bacon) Walter Benjamin tem a ver com o MQN?

   A resposta é simples queridos seguidores do beerblog!

     Não estamos tratando do MQN, e sim do Melhor Que Nada, nome com o qual tal banda foi conhecida por aqui no final dos anos 90. Bad Ass Rock N´Roll? Fuck The CD? Nada disso! O MQN daquela época era bem bonzinho por sinal. Nada de guitarras pesadas, vocais semi gritados e energia no palco. E sim melodias sugadas dos Beatles e cinco canções desconexas, porém bem gravadas no que constituiu o segundo CD prensado da história do rock goiano ( Nota do brógui: O primeiro foi o Step Ahead do CFC). Um CD prensado com cinco músicas? Mas não era mais prático lançar uma demo, já que se tratava do primeiro lançamento da banda? Ainda mais numa época onde 11 entre cada 10 bandas goianas lutavam pra gravar uma fitinha demo tosca? Ainda mais quando era caaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro pra caralho mandar fazer um CD?

       Marinherismos de primeira viagem à parte o grande lance é que, pasmem, esse CD foi totalmente gravado no esquema Do It Yourself ( ou seria papai pagou?). Naquela época o gordinho mais legal do rock brasileiro ainda não tinha poder nenhum, a Monstro era só do Marcio e do Bigode que nem conheciam tal banda, muito menos a Lei de Incentivo à Cultura; a Monstro era só um selo tosco como nós, que lançava bonitos compactos coloridos e fazia o Goiânia Noise no DCE-UFG.  O MQN costumava fazer seus shows em colégios secundaristas burgueses e em festas de 15 anos e o som além de remeter a Beatles também remetia a tudo que o Fábio Massari passava no saudoso Lado B da MTV: Oasis, Blur,Stereolab,Man or Astroman?,Spiritualized, Pavement, Jon Spencer Blues Explosion....  e a banda ia na onda da MTV. Acho que não mudou muita coisa de lá pra cá, até porque hoje o que se toca por lá é Stoner Rock! E nisso o MQN é pioneiro no Brasil.

      Bom, quanto ao Benjamin. O fato é que Television in Full Color foi renegado pela banda (vai la no site deles e vê se esse CD aqui existe!) e pela cena Rooooooooooack de Goiânia, e por tanto tempo esquecido, apagado da história oficial, e nós, como bons sucateiros, sobrevivemos para narrar a história e recolher este pedaço de lixo há tanto escondido e esquecido no limbo da tal Goiânia Roça City. Nois é Jeca mais é hype!

               Só nos resta saber qual dos bebês rechonchudos que aparecem na capa de trás do disco  é o senhor Nobre. Acho que todos heheheeheheheh 

Voi-lá!

TRACKLIST

1- The Guy Who Lives in a Dog House in Liverpool
2- Spaceboat to Venus
3- Speeches
4- Brain Working
5- A Million Feet High

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5 comentários:

  1. Eu entendo o MQN ter renegado seu primeiro EP. Como disse uma vez o Jorge, a banda estava se desligando do rock inglês e indo bem pro lado americano da coisa. De qualquer forma, esse disco não consegue empolgar tanto quanto seus sucessores. Era a época das guitar bands...
    E ainda bem que esse momento passou.

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  2. Bacana o texto, gostei das ironias, gosto também da "briga" desses gordinhos, apesar de discordar de algumas coisas pago pau pro trabalho dos dois.
    Agora, cuidado com as afirmações de primeiros CDs goianos prensados. O CD do Mandatory Suicide só porque é split não conta? e falando de Beatles, lembrei do Bitkids, acho que são anteriores a esses aí hein?!! isso sem forçar a memória pra achar mais.
    Boa sorte.
    Israel.

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  3. Na verdade ontem mesmo o Rodolfo One Voice tava me lembrando que o Mandatory foi o primeiro, porém como era um split eu não considerei. Mas ele lembrou que antes do MQN saiu o CD do Santos Hereges, uma banda que também foi esquecida no limbo da história... Sendo assim o MQN foi o terceiro CD prensado.

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  4. Realmente muito bem lembrado a afirmação “cuidado com as afirmações de primeiros CDs goianos prensados”, a banda Santos Hereges se não foi a primeira ficou entre uma das primeiras bandas goianas a lançar um CD por volta de 1996, antes mesmo dos meninos do Revolutions, que gravou posteriormente como Bitkids, que se não me falha a memória pela Polygram. Os Santos Hereges foi a primeira banda goiana a tocar em rádios populares, ficando entre as 10 mais tocadas da radio Araguaia na época, criou o projeto Rock nas escolas conhecido como Rock’school publicado no jornal o popular do dia 27 de maio de 1995, foi a primeira banda goiana a participar do Super Demo um festival nacional que lançou, por exemplo, o Skank entre varias outras participações registradas pela mídia.

    Obrigada por lembrar dos Santos Hereges apesar de infelizmente ter acabado a banda , continua na memória de muitos como a minha.


    Fabiana

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  5. gostaria de apimentar essa historia da primeira banda de goiana lançar um CD. e confirmar se o "santos hereges" não foi a primeira ela foi umas primeiras.
    mas uma coisa posso garantir eu acompanhei de perto historia de varias bandas goiana.
    mas me lembro bem que o santos hereges, faziam shows em vários locais na cidade, Cepal do setor sul, jardim américa, Joquei clube, Honk Tong em frente Aseg, no própío clube da Aseg, tocava nas rádios e entraram mesmo na mais pedidas na época, assim abrindo espaço pra muitas outras depois... era uma banda que não ficava chorando pelos cantos da cidade a falta de espaço: palavras do renomado jornalista Carlos brandão, na época trabalhava no diário da manha.

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