Todos Hipnotizados
Trago deste mundo
apenas a lembrança
Da miséria e da fome
Da derrota e da vitória
Meus amigos foram hipnotizados
por essa vida desgraçada
Senti em minha mão toda a sensação
Eu fui metralhado pelas costas
Por favor, olhe para mim
Por favor, olhe para mim!
(OLHO SECO. Todos Hipnotizados in Grito Suburbano: São Paulo, 1983 Gravações Sem Qualidade)
Todos Hipnotizados!- uma perspectiva nietzschiana do movimento Punk.
1- Introdução
A Analogia a ser feita baseia-se em traçar um paralelo das semelhanças entre a ideologia e a cultura punk e alguns aspectos presentes na obra de Nietzsche. Neste texto procuraremos traçar um paralelo entre o movimento punk e a filosofia de Nietzsche no tocante à crítica da sociedade mercantil contida nos aforismos de Aurora; analisando formalmente os aspectos contidos na literatura punk (zines, livros,revistas, letras de músicas e internet) utilizando obras em livro como A Filosofia do Punk de Craig O´Hara, O que é punk de Antônio Bivar e na letra da canção Systematic Death da banda punk britânica Crass juntamente com os os aforismos de 173 a 179 da obra de Nietzsche, de forma que a se afirmar que este movimento possuí uma íntima ligação com a filosofia nietzschiana no tocante à, à visão política e à moral, assim como às relações de trabalho no mundo moderno, tendo este movimento inclusive utilizado de alguns conceitos dessa crítica de Nietzsche em sua arte e até mesmo na vida prática com a prática do ethos punk: o conceito Do It Yourself, ou DIY.
O movimento Punk, ou simplesmente punk tem por princípio a recusa à moral burguesa e cristã, expressando sua fúria contra a sociedade através da arte, principalmente da música, e da prática política de resistência ao capitalismo. Com o conceito de Do It Yourself o punk consegue driblar a sociedade de consumo e aponta uma forma de vida e pensamento alternativa ao status quo que através da denominação punk de Sistema engloba vários setores da sociedade que são por este movimento considerados como a principal causa das mazelas da humanidade moderna por estarem enraigados nesses setores os princípios da moral cristã e burguesa, moda moral apontada por Nietzsche como causadora da perda da capacidade humana de se criar e se superar e de sua cultura.
A seguir analisaremos os conceitos citados acima: o conceito nietzchiano de moda moral e os conceitos punks de sistema e do it yourself, para, então passarmos para análise dos aforismos de Aurora.
1.1 A Moda moral de uma sociedade mercantil.
Em Aurora, Nietzsche define moda moral no aforismo 131 como uma categoria seguida de uma determinada moralidade que varia de acordo com o tempo e a sociedade que a utiliza. De acordo com Nietzsche: “Os grandes prodígios da moralidade antiga, como Epicuro, por exemplo nada sabiam da glorificação do pensar em outros, do viver para os outros, que é agora habitual. De acordo com a nossa moda moral,eles deveriam ser chamados imorais, pois lutaram com todas as forças por seu ego e contra a empatia com os outros ( sobretudo com seus sofrimentos e suas fraquezas morais).” (Nietzsche, Aurora p. 100)
Para Nietzsche a moda moral vigente é a moda da sociedade mercantil ), que tem por pensamento básico a valoração dos objetos com o objetivo de posteriormente comercializá-los: “Vemos agora surgir,de várias maneiras, a cultura de uma sociedade em que o comércio é a alma, assim como a peleja individual para os antigos gregos, e a guerra e o direito para os romanos. O mercador sabe estimar-lhe o valor de tudo sem produzi-lo e estimar-lhe o valor segundo a necessidade dos consumidores, não segundo suas próprias necessidades; ‘quem e quantos consomem isto?’ é sua grande pergunta. Esse gênero de estimativa ele emprega institivamente e incessantemente para tudo, também para as realizações da arte e da ciência,dos pensadores,doutores,artistas,estadistas, de povos e partidos, de épocas inteiras: em relação a tudo que é produzido ele pergunta pela oferta e a demanda,a fim de estabelecer para si o valor de uma coisa. Isto alçado em caráter de toda uma cultura , pensado com o máximo de amplidão e sutileza, e impondo-se a toda vontade e capacidade.” (Nietzsche p.127-128)
Este aforismo de Nietzsche foi publicado em 1881 e denuncia a nocividade implícita na nova moralidade mercantil, que transforma tudo que é produzido pelo homem em produto pronto para ser consumido pelos demais, banalizando seu sentido de existir como obra da criatividade e capacidade humana de criar o novo,peculiar apenas a nossa espécie,e não apenas um produto a ser consumido e logo após jogado fora como algo desprovido de utilidade.
Durante os cem anos seguintes à publicação de Aurora, a sociedade mercantil exposta por Nietzsche tomou de assalto todas as faculdades humanas, assim como o filósofo prevera. A sociedade de consumo foi plenamente desenvolvida em prol daquilo que é vendável, descartando tudo aquilo que não teria, segundo os comerciantes, aceitação comercial. E isso incluiu, como o próprio Nietzsche alega, também a arte. Felizmente, ao contrário do que Nietzsche pensava, a arte não foi totalmente enquadrada na moda moral da sociedade mercantil dividindo-se em duas principais áreas: o mainstream, ou corrente principal, a corrente comercial que segue a moda moral da sociedade mercantil e transforma a arte em produto pronto para o consumo, definida por O´hara como: “A corrente de pensamento e ideologia predominante por extensão, o que é transmitido e divulgado pela grande mídia como relevante cultural e artisticamente.”(O´hara p.188)
Em oposição ao mainstream surgiu o underground, “o espaço não cooptado e/ou coberto pela grande mídia - jornais, rádios,TV´s, revistas- onde circula uma produção artística mais comprometida com a arte do que com o comércio.” (O´hara p. 193)
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial que o mainstream e o underground se degladeiam no mundo da arte, da mídia, das relações sociais e da política. O mainstream tem por dispor de um imenso e lucrativo aparato de divulgação a tendência de lançar modas para satisfazer o apetite por novidade de seus consumidores, porém não possuí capacidade artística suficiente para criar, apenas para reproduzir. O mainstream então se utiliza da matéria-prima desenvolvida pelo underground, que tem consigo toda a vanguarda artística, e incorpora seus elementos à sua cultura oficial, quase sempre deturpando todo seu sentido artístico e remodelando-o de acordo com a necessidade dos consumidores, entregando assim ao cidadão comum novas tendências que se utilizam de maneira depreciativa da arte desenvolvida pelo underground, deixando para este a dura sina de sempre se reinventar para depois ter sua arte confiscada pelo mainstream lançar novas tendências e lucrar com isso. Além disso a tendência da moda sempre tende a suprimir a vanguarda, pois esta quase sempre está em desacordo com os preceitos morais da sociedade de consumo, que vê na glorificação do trabalho e no consumo o exemplo a ser aceito por esta moralidade.
Para entendermos melhor esta relação citamos o exemplo dado pelo jornalista brasileiro Antonio Bivar, que em 1982 escreveu o volume O Que é Punk da já clássica coleção primeiros passos da editora Brasiliense, quando o autor trata do embate entre o Existencialismo e a alta-costura: “Imagine agora Paris, dois anos depois do fim da Segunda Guerra, 1946 à margem esquerda do Sena. Ali era o quartel-general da juventude “sem futuro” da época. Estudantes, niilistas, poetas, escritores, artistas. E o mundo começava a tomar conhecimento do movimento Existencialista. Para os existencialistas a vida não fazia sentido, a própria existência se provara absurda. Outras guerras viriam e, quais fossem a circunstâncias, todos saíriam perdedores. O som da bomba e a imagem do cogumelo atômico ainda causavam os piores pesadelos. Deus estava morto, discutia-se Metafísica e, no fundo, todos os homens eram mortais. Um movimento que tinha como cabeças Sarte, Simone de Beauvoir, Albert Camus, enfim, o pensamento da jovem esquerda saída da Sorbonne e toda uma intelligentsia- e mais as caves enfumaçadas, a música do jazz, os cafés(...) O mundo tomou conhecimento e, aqui, e ali surgiam os existencialistas locais. Os mais sérios mergulhavam na filosofia do movimento; os mais levianos apelavam para o que o existencialismo tinha de mais óbvio: a moda.
Fosse moda ou filosofia, as boas famílias da época queriam que seus filhos fossem tudo menos existencialistas. Tudo que é rebelde tem um não-se-quê de excessivo. Excesso de pessimismo, excesso de álcool,excesso de droga. Quando não excesso de violência. E promiscuidade(amor por demais livre). E falta de dinheiro. Sim, porque se o cara pensa ou sonha muito,ele não ganha dinheiro. Assim pensa a família. Mas o Sistema, bom guardião não só das famílias mas de si mesmo, tratou de fazer com o Existencialismo o mesmo que trinta anos depois iria fazer com o punk: se nos anos 70 a contrapartida foi com a discotheque, nos anos 40 o “corte” foi via alta costura.” (Bivar p. 9-10)
Então sempre que a sociedade de mercadores se sentia ameaçada pela rebeldia dos jovens logo tratava de inventar ou copiar uma moda para driblar a rebeldia. Isso quando não colocava a polícia nas ruas em prontidão para espancar jovens tidos como esquisitos. Foi assim nos anos 50 com os beats e nos anos 60 com os hippies e na década de 70 com os punks. Porém no final da década de 70 o punk se estabelecia e com ele um duro golpe na sociedade de mercadores: não interessava ao punk fazer parte da cultura oficial, ao contrário de seus predecessores, o punk queria por princípio moral permanecer no underground mantendo-se como movimento crítico a sociedade Não se tratava apenas de conflitos de geração ou de aceitação pela sociedade oficial como os movimentos contraculturais que o precederam. O punk queria se manter fora da sociedade e viver por suas próprias regras e, assim desenvolveu um ethos próprio capaz de permanecer alheio a cultura oficial. A esse ethos punk chamou-se Do It Yourself. Assim como, criticando o caráter efêmero e descartável da sociedade de consumo, Nietzsche ironiza no aforismo 175 de Aurora: “é disso que vocês homens do próximo século estarão orgulhosos: se os profetas da classe mercadora tiverem razão em coloca-lo na sua posse! Mas eu tenho pouca fé em tais profetas”(Nietzsche p.128) os punks também tinham pouca fé nestes profetas, aliás, fé nenhuma.
1.2. Do It Yourself
Desde o início o punk se utilizou-se do do it yourself para lançar discos, obras de arte e filmes, além de fabricarem utensílios domésticos,roupas e até sua própria comida- que a maioria das bandas e pessoas envolvidas diretamente com o punk adotam o DIY como modo de realização de seus projetos artísticos e políticos lançando assim seus próprios discos, meios de comunicação (livros,zines,panfletos), organizando suas próprias apresentações e protestos e, além disso o DIY tem sido constantemente aplicado a ações do dia a dia, como uma forma de anticonsumismo calcada no princípio de apenas consumir algo quando a necessidade for terminantemente iminente. “A ética motriz por trás dos esforços mais sinceros do punk é o DIY-Do It Yourself. Não precisamos depender dos ricos homens de negócios para organizar nossa diversão e lucrar com ela- podemos fazê-lo nós mesmos, sem visar ao lucro.Nós, punks, podemos organizar shows e passeatas,lançar discos,publicar livros e fanzines,distribuir nossos produtos via mala direta,dirigir lojas de discos,distribuir literatura,estimular boicotes e participar de atividades políticas.Fazemos todas essas coisas e as fazemos bem.Alguma outra contracultura de jovens dos anos 80 e 90 pode afirmar que faz tudo isso?”(O´hara, p151)
1.3 Sistema
O punk compreende sistema por uma hierarquia superior em questão de poder que escraviza e domina o homem comum através do trabalho e do entretenimento de massa o impendindo de criar, criticar e até mesmo pensar por si próprio. O sistema é na verdade a moda moral da sociedade de mercadores exposta por Nietzsche, que tem por base a moral cristã e a moral burguesa;sendo imposta por grupos que detém o poder econômico buscando transformar o cidadão comum em um mero consumidor conformista que não tem controle sobre suas ações e decisões, acreditando então naquilo que lhes é mostrado como verdadeiro pelos defensores do sistema. Por defensores do sistema se compreendem todas as instituições que detém poder político e econômico: políticos,militares, a igreja e as multicorporações. Para manipular os pensamentos e reprimir atos de crítica e subversão, os defensores dos sistema se utilizam das chamadas ferramentas do sistema: a mídia de massa e a polícia.
As pessoas comum que vivem de acordo com o que é ditado pelo sistema são chamadas pelos punks de conformistas; segundo Craig O´hara:
“ Os punks questionam o conformismo não apenas por parecerem e soarem diferentes, mas para colocar em xeque os modos de pensar predominantes. O conformismo não se questiona sobre aspectos como trabalho, raça, sexo e sobre si mesmo porque suas idéias são determinadas por aqueles que o cercam. Já o não-conformista não se apoia nos outros para determinar sua própria realidade.
O questionamento do conformismo também envolve questionamento de autoridade. Os punks não têm muito respeito por autoridade de qualquer espécie ( nota do brogui: idéia um pouco oposta à de Nietzsche, para quem a hierarquia não é necessariamente um problema. Reconhecer que o outro pode ter mais ou menos algo, não necessariamente é um problema. Pode ser inclusive um reconhecimento necessário para alguma superação...). Em geral, a autoridade forçada é considerada um grande agente causador do mal. Desde os alemães nazistas na Segunda Guerra, passando pelas vítimas de tratamento de choque de Stanley Migram, até a força policial de hoje, ficou provado que a obediência injustificada à autoridade resultou na aceitação em massa de atos nocivos.
Agindo como não-conformistas antiautoritários, os punks não são muito bem tratados por aqueles cujos comandos para se conformar são rejeitados. Nossa sociedade, bem experimentada no duplipensar e na imagem do bode expiatório, tem usado a linguagem para criar uma imagem negativa daqueles que buscam os meios não-conformistas.” (O´Hara p. 34)
Conforme diz O´Hara o punk ameaça a paz e a segurança da sociedade com seu não-conformismo, e por fazer com que os jovens comecem, através do movimento, a questionarem à moda moral vigente e não aceitarem nem o consumo deliberado nem a glorificação ao trabalho, este é tratado como escória da sociedade e como mau exemplo, tendo assim que travar uma enorme luta contra a sociedade de consumo em troca de sua liberdade para agir e pensar de forma diferente ao padrão.
Nietzsche diz no aforismo 174 de Aurora que “apenas as ações que têm em mira a segurança comum e o sentimento de segurança da comunidade merecem o predicado de bom”, isto porque o filósofo vê a temeridade como pano de fundo do princípio básico da atual moda moral que é o de que as “ações morais são as ações da simpatia pelos outros”. O que vem a justificar a marginalização do punk perante a atual sociedade, pois este como rejeita essa moral é taxado pelo senso comum de desordeiro, vagabundo, pária e visto como uma ameaça à segurança da sociedade por seu visual agressivo e suas idéias subversivas que levam jovens acostumados a obedecerem à moral estabelecida a questionarem-na. No aforismo 178 de Aurora Nietzsche faz uma crítica semelhante à apresentada pelo punk a este mesmo aspecto do conformismo; os cotidianamente usados: “A esses jovens não falta caráter, nem talento, nem diligência: mas nunca les deixaram tempo para dar a si mesmos uma direção; pelo contrário, desde a infância foram habituados a receber uma direção. Quando estavam maduros o bastante para serem “enviados” para o deserto”, foi feito algo diferente- foram utilizados, foram afastados de si mesmos, instruídos para serem usados cotidianamente, ensinados a enxergar nisso um dever- e agora não podem mais dispensar isso, e não querem que seja diferente. Apenas não se pode negar, a esses pobres animais de tiro, as suas “férias”- como é chamado o ideal de ócio de um século sobrecarregado: quando se pode folgar e ser estúpido e infantil à vontade”.
Um exemplo de o que o sistema significa é para o punk pode ser observado na letra da canção Systematic Death da banda inglesa Crass, que conta a história de um cidadão moderno do berço até a morte sobde um ponto de vista crítico:
Morte Sistemática
A morte em vida
Sistema,sistema,sistema
A faca do cirurgiao
Sistema,sistema,sistema
Pendurado pelo cordão
Sistema, sistema,sistema
Uma criança nasceu
Pobre fodidinho, pobre criancinha,
Nunca pediu pela vida, não ela nunca.
Pobre bebezinho, pobre pequenino
Chorando por comida enquanto seus pais brigam!
Sistema, sistema,sistema
Mande- o para a escola.
Sistema...
Force-o a engatinhar
Sistema….
Ensine-o a trapacear
Sistema...
Derrube-o chutando.
Pobre estudantezinho, pobre pirralhino
Eles vão animá-lo se ele for bom e espancá-lo se for mal!
Pobre criancinha, pobre camaradinha
Eles alimentarão sua mente à força com sua merda inútil
Sistema
Vão ensiná-la a cozinhar
Sistema
Ensiná-la a se produzir.
Sistema
Ensina-la todos os truques
Sistema
Criar outra vítima para seus canalhas sebosos.
Pobre garotinha, pobre pequena submissa,
Outro pequeno objeto para cutucar e beliscar.
Pobre docinho, pobre potrinha,
Vão foder com sua mente para poder foder sua xoxota!
Sistema…
Ele cresceu para ser um homem
Sistema....
Ensinado a se encaixar.
Sistema…
Quarenta anos de serviço.
Sistema…
Apertando botõezinhos, girando seletores.
Pobre trabalhador, pobre pequeno servo
Trabalhando como uma mula por metade do que valhe.
Pobre enxertado, pobre senhorzinho
Trabalhando pelo dinheiro que já gastou!
Ele está vendendo sua vida
Ela é sua leal esposa
Tímida como um rato
Ela tem sua casinha
Ele tem o seu carrinho
E Eles compartilham o bar de cocktails.
Ela gosta de cozinhar a comida delea
Você sabe, algo que seduza.
As vezes ele trabalha até mais tarde
Então seu jantar tem de esperar
Mas ela não se importa
Pois ele está ganhando hora-extra
Ele gosta de poupar um pouco
Apenas para aquele dia chuvoso
Porque cada pouquinho conta
Para se chegar a um montão
Jogam na loteria toda semana
A espera daquele golpe de sorte
Pra então eles viajarem pra fora
Fazer todas as coisas que não podem custear
Ela realmente gostaria de um casaco de peles,
Ele de um carro maior
Eles poderiam comprar um sítio
Com uma porta Georgeana para se exibir
Ele pode até pensar em sair do emprego,
Mas não, ele não gostaria de não cumprir as obrigações
Ele prefere ficar
E receber seu pagamento honesto
Ele tem uma vida de trabalho pela frente
Não há descanso para os mortos
Ela tenta fazer tudo ficar suportável
Ele diz obrigado de vez em quando.
Sistema....
Privados de qualquer esperança
Sistema...
Ensinados a “não estar a altura”
Sistema...
Escravos desde o começo
Sistema
Até que a morte os separe
Pobres Coitados, que casal infeliz!
Tiveram suas vidas roubadas, mas eles não se importaram
Pobres queridinhos, apenas pessoas ordinárias
Vítimas do sistema e de suas piadas cruéis
O casal vê os escombros
E sonhos do lar, doce,lar
Eles quase tinham conseguido pagar a hipoteca
Quando o sistema jogou sua bomba!.
(CRASS, Systematic Death in Penis Envy: Londres. Crass Records,1981)
Como podemos notar na letra da canção do Crass se traça uma crítica sensata aos valores da moda moral em voga. Desde o nascimento até a morte dos personagens da canção se percebe no tom sujo e sarcástico das palavras utilizadas toda repulsa do punk pelos valores mercantis e cristãos, além de apontar para a crítica à glorificação do trabalho, ao sonho consumista de poder ter além daquilo que necessita, e ao comportamento social guiado pela moda moral da sociedade mercantil. Nota-se também a critica ao machismo e à educação que são fatores sociais também derivados desta moda moral. O punk prova assim ser não apenas um grito de rebeldia juvenil, mas um movimento sério capaz de assim como Nietzche fez em seu tempo, captar todo o espírito cínico de seu tempo e convidar a humanidade à reflexão sobre os perigos da moda moral em voga, apontando, inclusive, um caminho de resistência através da ação.
2- Bibliografia
NIETZSCHE, Friederich. Aurora
O´HARA, Craig. A Filosofia do Punk.
BIVAR, Antônio. O Que é Punk? Col. Primeiros passos