Corja em Inhumas 2007 Resgatar 0 passado é algo até divertido e foi bem interessante recolher todo esse material antigo do Corja pra lançar o primeiro disco virtual da TBonTB. A Caixa de Pandora não é apenas uma compilação de raridades de uma banda com 12 anos de estrada, mas também uma forma de resgatar o espírito de uma época. Como disse em um site de relacionamentos o vocal e guitarra do Cicuta (e ex Ps&co. Ataq) Leandro Torreal:" quem desconhece, desconsidera ou desgosta de Corja deveria ao menos sacar a tal caixa de pandora.
a banda é tosca, isso todos sabemos, mas ali vc pode encontrar verdadeiras pérolas cantadas e entender um pouco da história do underground goiano, que nesses últimos anos mudou muito.
rock feito apenas pelo rock.
feito desse jeito escroto em uma época que tocar rock ainda era ser visto como um maloqueiro vagabundo.
as famílias sentiam vergonha de ter filhos envolvidos com essa merda...
hahahaha....
bons tempos mais pueris. "
E resgatando esses tempos pueris aproveitamos pra postar aqui uma entrevista feita com o Corja no já longinquo ano de 2003 publicada no saudoso Cybergoias.com e redigida pelo Gay-mor Alexandre Barbosa. Na época a banda ainda contava com o Alysson nos vocais e o clima de cena era outro, mas mesmo assim vale a pena conferir pois muita coisa (não) mudou de lá para cá!
ENTREVISTA COM CORJA: A ÚNICA BANDA HARDNEWCORERAPMETAL
Goiânia, 8 de agosto de 2003
Surgido em meio a uma geração que revolucionou o rock goianiense, o Corja representa muito bem as influências que nortearam o rock pesado nos últimos anos: rap, hardcore e o novo metal. Apesar de ter se apresentado várias vezes fora de Goiânia e ser uma banda muito respeitada no cenário local, o Corja jamais tocou em um festival organizado pela Monstro. Mas, em compensação, costuma se apresentar nos principais shows promovidos pelo selo Two Beers, o selo do baixista Segundo. Veja aqui a entrevista com três dos quatro integrantes do Corja:
cyber - Quando surgiu o Corja e qual foi a idéia de colocar esse nome?
Segundo - O CORJA SURGIU EM FEVEREIRO DE 1998, NA GARAGEM DA MINHA CASA, NO FINAL DE 97. EU TOCAVA NUMA BANDA QUE CHAMAVA PAY DAY, DAÍ O BATERISTA DO PAY DAY SAIU E O VOCALISTA FALOU DE UM CARA DA SALA DELE QUE TOCAVA BATERA. ERA O DANIEL. UM DIA MARCAMOS UM ENSAIO E QUANDO O DANIEL CHEGOU, EU SACAVA QUE CONHECIA ELE HÁ UNS 4 ANOS. FOI TIPO UMA SURPRESA, DO TIPO "VOCÊ AQUI??" CARALHO VÉI! QUANTO TEMPO E TAL.... DAÍ O PAY DAY ERA POP DEMAIS PRA GENTE, E EM UM ENSAIO QUE O POVO NÃO FOI, EU E O DANIEL FICAMOS SONHANDO EM TOCAR UM SOM PESADO TIPO RAGE AGAINST THE MACHINE. EU DIZIA QUE ERA IMPOSSÍVEL A GENTE FAZER AQUELE SOM PORQUE OS CARAS TOCAVAM DEMAIS E A GENTE ERA UNS BOSTAS, DAÍ ELE ME MOSTROU UMA BASE QUE TINHA FEITO MEIO RAPCORE. DAÍ , NO COMEÇO ERA EU E ELE, DEPOIS ELE CHAMOU O PRIMO DELE PRA TOCAR GUITARRA. DAÍ A BANDA NASCEU. O NOME SURGIU DAQUELA DÚVIDA NORMAL: QUAL SERIA O NOME DA BANDA? TINHA QUE SER ALGO SUBVERSIVO E QUE TRAZIA IMPACTO. DAÍ EU SUGERI GENTALHA. A GENTE RIU PRA CARALHO POR CONTA DO QUICO DO CHAVES E AI O DANIEL VEIO COM CORJA E FICOU ATÉ HOJE.
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Daniel - A gente tava procurando um nome que nos identificasse como assumidos perante o preconceito que geralmente sofrem aqueles que tentam fazer um som e viver na boemia do underground. O Segundo veio com Gentalha, mas como a coisa era pra ser mais séria, fui direto no sinônimo mais grave.
cyber - O Corja teve várias formações. Quais foram?
Segundo - CARALHO.... VAMO LÁ:
PRIMEIRA FORMAÇÃO: 98: DANIEL, SEGUNDO, RODOLFO E ADELSON. NO FINAL DE 98 O RODOLFO FOI OBRIGADO A SAIR POR PRESSÃO PATERNA E AÍ O CAMBOJA ENTROU NO LUGAR E TÁ ATÉ HOJE. NO COMEÇO DE 99 O ANDRÉ COGU QUE TOCAVA NO PAY DAY FEZ UMA PASSAGEM RELÂMPAGO PELA BANDA, DAI A GENTE GRAVOU UMA DEMO E NÃO CURTIU O VOCAL DO ADELSON GRAVADO, A GENTE QUERIA UMA COISA DIFERENTE, MAIS HIP HOP E O ADELSON ERA MAIS HC E TAL. DAÍ OS MENINOS FORAM PEDIR PRA MIM TIRAR ELE DA BANDA. FOI FODA, PORQUE EU ERA AMIGO DO CARA E QUERIA ELE NA BANDA, MAS NUM TAVA ROLANDO, ELE FICOU MUITO SENTIDO MAS PASSOU, HOJE CONTINUAMOS A SER GRANDES AMIGOS.
EM NOVEMBRO DE 99, ACHAMOS DOIS VOCALISTAS: O ZÉ, QUE ERA AMIGO DE INFÂNCIA DO CAMBOJA E O CÃO QUE ERA CHEGADO NOSSO DA RUA. ELES ENTRARAM E FIZERAM NA MINHA OPINIÃO A MELHOR FORMAÇÃO DA PRIMEIRA FASE DA BANDA, A GENTE TAVA ENSAIADO E AS MUSICAS ERAM BOAS. DAÍ O CÃO SAIU, O LUCAS ENTROU E O NEGO TAMBÉM...
AÍ A BANDA ACABOU E DEPOIS DE QUASE UM ANO VOLTOU COM O ALYSSON. EU, O CAMBOJA E O DANIEL, E ESTÁ ASSIM ATÉ HOJE.
cyber - Quais eram, no início, as principais referências do Corja?
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Segundo - CARA, ERAM BASICAMENTE, NO CAMPO MUSICAL, AS BANDAS DE RAPCORE, TIPO RAGE AGAINST THE MACHINE, DOG EAT DOG, 3 -11, CLAWFINGER, BODY COUNT E ALGUMA COISA DE HC NYC, TIPO BIOHAZARD, MADBALL E MÚSICA BRASILEIRA, TIPO CHICO SCIENCE, REPLICANTES, SHEIK TOSADO E MURDER. E HARD ROCK 70 TIPO PURPLE, SABBATH E LED.
JÁ NO CAMPO IDEOLÓGICO ERA MARX, JOE STRUMMER, GREG GRAFFIN, JACK KEROUAC, ZACK DE LAROCHA, CHE GUEVARA, BAKUNIN... ERA BEM PANFLETÁRIO E CONSCIENTIZADOR, QUERÍAMOS MUDAR O MUNDO.... É LÓGICO QUE O QUE MAIS INFLUENCIOU NAS LETRAS FOI A NOSSA EXPERIÊNCIA DO MUNDO ALIADA A ESSES TEÓRICOS....
cyber - Os primeiros shows do Corja foram marcados por várias roubadas e por aquele amadorismo tosco de quem está começando meio na zoeira. como era essa época?
Segundo - CARA ERA MASSA, TIPO ROLAVA AQUELE SONHO DE BANDA NO COMEÇO E TAL, FOI UMA ÉPOCA MUITO BOA DA MINHA VIDA. PENA QUE O ÁLCOOL E DEMAIS SUBSTÂNCIAS APAGARAM BOA PARTE DESSAS DOCES LEMBRANÇAS. MAS ACHO QUE TODA BANDA TEM QUE PASSAR POR ISSO UM DIA, PRA SABER QUE O BURACO É MAIS EMBAIXO E QUE NÃO É NADA FÁCIL TER UMA BANDA EM GOIÂNIA. OS TEMPOS ERAM OUTROS, GOIANIA NÃO TINHA ESSE GLAMOUR QUE TEM HOJE, NUM TINHA MONSTRO NEM TWO BEERS. AS BANDAS ERAM BEM POUCAS, MAS JÁ TINHA UM PÚBLICO FIEL, MAS NADA DESSE LANCE DE CENA ALTERNATIVA PROMISSORA NEM NADA. ERA SÓ TOCAR POR AMOR E TAL, POUQUISSIMAS BANDAS TINHAM GRAVADO E OS SHOWS SÓ ROLAVAM NO CENTRO, NUM ESQUEMA BEM TOSCO.... FOI UMA ÉPOCA EM QUE SURGIRAM BANDAS QUE ESTÃO AI ATÉ HOJE. FOI UMA RENOVAÇÃO NO UNDERGROUND DE GOIÂNIA, ALÉM DE NÓS SURGIRAM O AGAINST, O C(H)OICE, O OSNI, O SELF, O PS&CO ATAQ, O NEM, IN BLEEDING....
Daniel - Nos primeiros shows a gente não tinha nada, só a saudosa (que Deus a tenha) bateria Dixon do Segundo e suas duas Ciclotrons do Inferno. Quando tinha lugar pra tocar, não tinha gente. Quando tinha gente, não tinha energia elétrica. Quando tinha energia, a ciclotron queimava. Era meio duro, mas o pessoal gostava de vez em quando cyber - Depois da demo de 2000, "Não dê conversa, eles fazem a cabeça de vocês", é verdade que houve uma briga de porrada em um ensaio do corja?
Segundo - FOI EXATAMENTE UMA SEMANA DEPOIS DA GRAVAÇÃO. EU E O CÃO ESTAVAMOS NUMA FASE DE BRIGA E NEM CONVERSAVA UM COM O OUTRO DIREITO DAI TEVE UM ENSAIO QUE O POVO TAVA ATRASADO, DAÍ COMEÇAMOS A DISCUTIR E O KAIO (AMIGO NOSSO, EX IMP E ATUAL CFC), FICOU PONDO PILHA NA COISA, AI NOS ALTERAMOS E O CÃO ME RUMOU UNS MURROS NA CARA. EU TAVA SENTADO NA PORTA DO ESTÚDIO, NA 68 (CENTRO). AÍ O CÃO RUMOU AS PANCAS E EU FIQUEI SEM REAÇÃO, DAÍ, NUM ESQUEMA MEIO GANDHI, EU LEVANTEI E FIQUEI GRITANDO: "BATE MAIS! BATE MAIS!", RIDÍCULO..... MAS ISSO PASSOU E HOJE SOMOS AMIGOS DE BOA, MAS CONCORDAMOS QUE FOI O KAIO QUE FICOU PONDO PILHA NA TRETA E ELA SÓ ROLOU PORQUE O KAIO TAVA LÁ. ISSO FOI NO ENSAIO DO MURDER, A GENTE IA ENSAIAR DEPOIS, AÍ O NATAL QUERIA MATAR O CÃO.... NO FIM DAS CONTAS EU ENSAIEI COM A CARA ROXA E DAI O LUCAS ENTROU NA BANDA....
Daniel - A gente tinha marcado ensaio proque tinha show, ia gravar uma demo de novo, mas aconteceu do Segundo me emprestar o carro, antes do ensaio, pra resolver alguns problemas que não vêm ao caso, junto com mais dois integrantes da banda. Quando eu cheguei, atrasado (muito atrasado), dei de cara com o Segundo com o olho fudido, e fiquei sabendo que o Cão tinha apelado com ele. E é tudo que sei sobre tão nebuloso episódio.
cyber - E, quando tudo parecia que estava acertado, o Segundo saiu da banda. O que aconteceu?
Segundo - EU ESTRESSEI COM A BANDA PORQUE NÃO TAVA MAIS CURTINDO TOCAR RAPCORE DAQUELE JEITO, A ATITUDE SUBVERSIVA DA BANDA TINHA ACABADO E ELA TAVA CAMINHANDO A MEU VER PRUM LANCE POP E EU QUERIA TOCAR ALGO MAIS PESADO E COM ATITUDE. DAÍ, O AGAINST E O PS&CO ATAQ ME CHAMARAM PRA TOCAR E EU TAVA DE SACO CHEIO DA BANDA E DA GALERA QUE O POVO DA BANDA TAVA ANDANDO, E O UNICO QUE EU NÃO ESTAVA GRILADO ERA O CAMBOJA. AÍ EU E O DANIEL DISCUTIMOS UM DIA NA PRAÇA UNIVERSITÁRIA E EU SAÍ. PASSAMOS UM TEMPO BRIGADOS E DEPOIS TUDO SE RESOLVEU...
Daniel - Aconteceu que eu e o Segundo brigamos, porque eu queria continuar na linha rap-funk-core que a gente tava levando, já tínhamos feito bons shows e a coisa tava realmente engrenada. Essa fase da banda teve lugar quando o Cão saiu, e entraram o Lucas e o Zé, que faziam tipo uma dupla de MC's. O som tava ficando legal, meio popão, mas eu me empolguei mais foi com a aceitação da galera. Hoje, eu vejo que a gente acabou ficando meio Charlie Brown (logo o quê!). Um belo dia, discutindo com o Segundo na Praça Uiversitária, aquela cena de novela. Xingos e latidos selaram a saída do Segundo, ou melhor, o fim da banda, porque eu nem procurei outro baixista. Uns cinco meses depois, fizemos as pazes e começamos a projetar o fantástico retorno.
cyber - Após a saída do Segundo, a banda acabou por uns tempos pra depois ressuscitar. Como foi esse processo?
Segundo - EU FUI PRO PS&CO ATAQ E PASSEI UNS MESES TOCANDO NO AGAINST.... DAÍ NO SHOW DO MESTRE AMBRÓSIO, ENCONTRAMOS EU, O CAMBOJA E O DANIEL E RESOLVEMOS VOLTAR, PORQUE SENTÍAMOS FALTA DO CORJA E DE TOCAR JUNTO E TAL. SÓ QUE EU QUERIA PESO E ATITUDE, DAÍ O CAMBOJA CHAMOU O ALYSSON, QUE ERA UM VELHO AMIGO NOSSO, PRA CANTAR E DEU NO QUE DEU....
Daniel - Nesses cinco meses a gente nem se falou direito. Eu tinha planos pra continuar com a banda, mas tava deixando o tempo passar. Um dia, numa festa na casa do Michel (Alcebíades), combinamos de refazer a coisa toda, dessa vez bem mais pesada.
cyber - A partir desse retorno, o Corja se estabilizou com sua nova formação. Vocês finalmente encontraram uma harmonia?
Segundo - ACHO QUE SIM. ESTOU SATISFEITO COM A BANDA HOJE E ACHO QUE OS MENINOS TAMBÉM....
Daniel - Finalmente, da banda só participam agora velhos amigos. Sou amigo do Camboja e do Alisson desde os tempos da finada ETFG (93, 94) e do Segundo há quase o mesmo tempo. Todos estamos gostando do som que fazemos e empolgados, mas sem deixar o realismo de lado.
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Alysson - Falar em harmonia é complicado, na verdade encontramos uma desarmonia aceitável, que até agora têm dado certo.
cyber - Como poderíamos comparar o som do Corja do início e o atual?
Segundo - O SOM ANTIGO É APENAS UM ELEMENTO DOS MUITOS QUE USAMOS HOJE. NÃO DÁ PRA NEGARMOS NOSSAS RAÍZES, TEM ALGO DAQUILO QUE ROLOU EM 99 DENTRO DA GENTE, NÃO DÁ PRA NEGAR. ATÉ ALGUMAS MÚSICAS DAQUELA ÉPOCA CONTINUAMOS TOCANDO, SÓ QUE NUMA NOVA ROUPAGEM.
Daniel - Você pode dizer que a semelhança é a vontade de fazer o povo pular. Apesar de nossas influências serem basicamente as mesmas de antes, a verdade é que nós (à exceção do Alisson), aprendemos a tocar nossos instrumentos no decorrer da evolução da banda. Nunca fizemos aula de nda. Quando eu e o Segundo montamos a Corja, eu tinha sentado duas vezes em uma bateria, só pra brincar.
Alysson - Ouça as demos.
cyber - O Corja pode ser considerado uma banda de hardcore, new metal, rapcore ou o quê?
Segundo - ISSO É DIFICIL DE RESPONDER, TEMOS INFLUÊNCIA DE TODOS ESSES ESTILOS. MAS NÃO NOS CHAME DE NEW METAL..... NEM DE HARDCORE... NEM DE RAPCORE.... TEMOS ELEMENTOS DISSO TUDO, ALÉM DE OUTRAS COISAS, COMO THRASH, DEATH, GRINDCORE, PSICODELIA. SOMOS BASTANTE DIFERENTES EM QUESTÃO DE GOSTO MUSICAL. EU, POR EXEMPLO, GOSTO PRA CARALHO DE HC E OS MENINOS NÃO GOSTAM MUITO.... CADA UM TEM SUAS PROPRIAS INFLUÊNCIAS E A GENTE JUNTA TUDO...
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Daniel - Gostamos muito de hardcore, de rapcore e um pouquinho de nu metal. Mas não tocamos nem um nem outro especificamente. Alguém que gosta de hardcore vai achar que a gente é muito heavy metal, quem gosta de metal vai achar muito hardcore pro gosto dele e assim por diante. Se fosse pra definir, usaria um termo novo no quel pensei há algum tempo: riffcore. Na verdade, o som da nossa banda é só riff. Não tem solo, não tem efeitos especiais. A guitarra tem só uma distorção ou distorção nenhuma. Sem firula de espécie alguma. Mas a preocupação com as bases é total. Frases pesadas e meio melódicas (meio, eu disse meio), a la década de 70.
Alysson - Pode chamar de hardnewcorerapmetal.
cyber - Quais outras bandas de Goiânia têm uma afinidade musical com o Corja?
Segundo - O MURDER, C(H)OICE, AGAINST, RESSONÂNCIA MORFICA, DESASTRE, CIRCUNS CREPH, DEFACE, IN BLEEDING.... QUALQUER BANDA DE METAL, NEW METAL OU HC.....
Daniel - Tem o Against, o C(H)oice e o Murder.
Alysson - Eu acredito que o Mob Ape, Ressonância, Mersault, Testemunha Ocular, Murder, Desastre, por aí....
cyber - Um dado interessante sobre o Corja é que a banda nunca tocou em um show organizado pela Monstro. Vocês nunca foram convidados ou é porque vocês se recusam a tocar em eventos organizados por este selo?
Segundo - NUNCA FOMOS CONVIDADOS E NÃO MORREMOS SE NÃO TOCARMOS. TEM NEGUINHO QUE SE MATA E MORRE SE NÃO TOCAR NO GYN NOISE E FICAM BABANDO OVO E PAGANDO PAU PRA MONSTRO. NÓS NUNCA IREMOS FAZER ISSO. SE OS CARAS CHAMAREM A GENTE TOCA IGUAL TOCAMOS EM QUALQUER LUGAR. NUM TEM DESSA. MAS NÃO ACHAMOS QUE ELES SÃO OS SALVADORES OU A EXPRESSÃO MÁXIMA DO ROCK GOIANO COMO ALGUNS DIZEM. ELES FAZEM O TRABALHO DELES E RESPEITAMOS ISSO. MAS TEMOS VERGONHA NA CARA.
Daniel - O negócio é que eles nunca chamaram e a gente nunca pediu. A Monstro é uma coisa boa pros goianos só porque põe o estado no circuito nacional com grandes letras. O problema é o direcionamento dado pelo selo, que a gente nota pelos esquemas dos festivais, dos shows e tudo mais. Não é feito pra todo mundo. Os caras não estão nem um pouco preocupados com o verdadeiro cenário independente goiano. Eles se preocupam com o cenário independente goiano DELES. É tudo macaco velho que tá mais preocupado com a promoção do próprio nome e da própria banda do que com a formação de um público maior que aquele que caiba no Pyguá sem lotar muito. Fala sério: um festival, que parece mais a Feira da Lua (pelo ambiente e pelos freqüentadores), que é caro (muito caro), com câmera de televisão pra todo lado e todo mundo querendo aparecer mais que o outro, não pode ser chamado de independente. A gente não tem NADA a ver com a Monstro.
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Alysson - Que eu saiba nunca fomos convidados, e acho que nunca convidarão. Mas caso ocorra, utilizaremos o espaço, pra fazer tipo um 11 de Setembro.
cyber - O Corja já teve quatro vocalistas diferentes. O que mudou na banda com a entrada e saída de cada um desses?
Segundo - CADA VEZ QUE UM SAIU, A BANDA MUDOU COMPLETAMENTE. AS MÚSICAS, AS VEZES ATÉ O ESTILO DO SOM.... TEMOS UMA FORMA DEMOCRÁTICA DE LIDAR COM A BANDA. CADA UM EXPÕE SUAS IDEIAS E NÓS FAZEMOS AS COISAS DE ACORDO COM O QUE A BANDA PENSA, NÃO COMO UM OU OUTRO PENSA. ENTÃO, UMA PESSOA NOVA SIGNIFICA INFLUÊNCIAS NOVAS E UM NOVO JEITO DE ENCARAR AS COISAS. DAMOS LIBERDADE A NÓS MESMOS DE PENSAR E AGIR SOB NOSSAS PRÓPRIAS IDÉIAS E OPINIÕES, NÃO TEM LIDER, NINGUÉM MANDA EM NINGUÉM. SE A MAIORIA CONCORDAR, É FEITO. ENTÃO CADA VOCALISTA QUE ENTROU DEIXOU SUA MARCA DE ALGUMA FORMA NA BANDA.
Alysson - Os vocalistas, ora!
cyber - O Corja foi a única banda de Goiânia que se apresentou no Forum Mundial de Cultura, em Porto Alegre. como foi tocar nesse evento?
Segundo - DOIDO DEMAIS... TINHA UMAS SEI LÁ QUANTAS MIL PESSOAS ASSISTINDO. FOI UM TESTE E TANTO PRA GENTE, QUE TAVA ACOSTUMADO A TOCAR SÓ EM SHOW TOSCO EM GOIÂNIA. NO COMEÇO A GALERA ESTRANHOU MAS NO FINAL ERA SÓ NEGUINHO PULANDO E DANDO MOSH. FOI MUITO FIGURA....
Daniel - Foi ótimo porque, além de sermos a única banda goiana, fomos a única banda de fora do RS a tocar lá. Foi lindo, só tinha doidão de todo canto do planeta. Foram cinco dias de "oh!". Gente pelada pra cima e pra baixo, suruba do lado da sua barraca, fármacos e naturais pra todos; enfim, clima perfeito. O show em si foi grande, umas 2500 pessoas só na frente do palco, fora a galera gigante que estava no acampamento.
Alysson - Foi du caralho, rolou uns contatos legais. O único problema foi o retorno, que estava uma merda, mas a recepção da galera foi massa.
cyber - O EP que vocês estão gravando chama-se "Fogo na Patricinha". O que significa isso? É um incentivo à violência, ao assassinato e ao linchamento ou é uma expressão de conteúdo sexual subentendido?
Segundo - NENHUM DOS DOIS. É SÓ UM DESEJO DE EXTERMINAR A BURRICE DA ELITE BRASILEIRA. FOGO NA PATRICINHA É UMA METÁFORA. A PATRICINHA É O SÍMBOLO DO CONSUMISMO SHOPPING CENTER ACENTUADO NOS ANOS 90, E QUE HOJE ESTÁ CHEGANDO A NÍVEIS INSUPORTÁVEIS. NÃO QUEREMOS QUEIMAR, MATAR NINGUÉM. QUEREMOS APENAS QUE AS PESSOAS PERCEBAM QUE O MUNDO É MUITO MAIS QUE UMA ROUPA DE GRIFFE E UMA VIDA DEDICADA EXCLUSIVAMENTE AO ACÚMULO DE CAPITAL. PATRICINHA É AQUELA MINA QUE NUM TEM NADA NA CABEÇA E SÓ SABE COPIAR. É UM LANCE MEIO DEAD KENNEDYS SACA? TIPO CHEMICAL WARFARE, ONDE O JELLO BIAFRA CANTA A HISTÓRIA DUM CARA QUE ROUBA ARAMAS QUÍMICAS E VAI PRUM COUNTRY CLUB E JOGA NAPALM NOS RICAÇOS E FICA RINDO DE VER ELES MORRENDO. É SÓ A PSICOPATIA SOCIAL LEVADA AO EXTREMO DA IRONIA. QUALQUER PESSOA QUE LER A LETRA DA MÚSICA VAI SACAR QUE NUM TEM NADA A VER COM VIOLÊNCIA NEM CONOTAÇÃO SEXUAL E SIM COM UMA IDEOLOGIA FALHA IMPORTADA DOS EUA QUE ESTÁ A CADA DIA AFUNDANDO MAIS O PAÍS.
Daniel - Pra começar, nenhuma música nossa é um hino. Muita gente vai ouvir essa música e nos chamar de sexistas, ou de incitadores da violência, ou de intolerantes. Mas eu posso muito bem falar de laranja e estar pensando em banana. O Segundo, que fez a letra e a música é que deve responder, mas quanto a mim, eu só vou discitir o assunto com quem for capaz de me dizer o que são metáfora e hipérbole.
Alysson - É violência declarada contra os cuzões, os(as) caretas, e principalmente contra a futilidade, ser Patricinha é ser fútil, então fogo na futilidade.
cyber - O Corja pode ser considerado uma banda séria?
Segundo - PODE E DEVE. TEMOS UMA MENSAGEM PRA PASSAR NAS LETRAS E NO SOM, REPRESENTAMOS OS ÚLTIMOS ESPÉCIMES DE ROCK COM ATITUDE NESSE RAIO DE CIDADE E TALVEZ ATÉ DO BRASIL.
Daniel - Se a banda é séria porque fala de coisa séria, tudo bem.
Alysson - Não, nós não conseguiríamos este feito, aliás o que é ser sério quando queremos é a algazarra, é pulverizar os agenciamentos dessa sociedade hipócrita que se diz séria, bem como os merdas que se dizem alternas ou underground, mas que são um bando de aproveitadores que estão só esperando um contrato da Sony, Somlivre, etc.
cyber - Quais são as bandas prediletas do pessoal do Corja? Gringas, nacionais e de Goiânia.
Segundo - AS MINHAS:RAMONES, CLASH, SLAYER, BLACK SABBATH, NAPALM DEATH, FAITH NO MORE, SYSTEM OF A DOWN, DEAD KENNEDYS, RANCID, NOFX,QUEENS OF THE STONE AGE, AT THE DRIVE IN, MUTANTES, TOLERÂNCIA ZERO, SEPULTURA, RADIOHEAD, PAVEMENT, NAÇÃO ZUMBI, MUNDO LIVRE S/A, A BARCA DO SOL, TOM ZÉ, RDP, OLHO SECO, CÓLERA, DISCHARGE, EXPLOITED, CHAOS UK, SWINGIN UTTERS, AFI, ENTOMBED, ANTHRAX.
DE GYN: MURDER, AGAINST, HANG THE SUPERSTARS, CIRCUNSCREPH, TSAVO, RESSONÂNCIA MORFICA, IN BLEEDING, CIRCUNS CREPH, NOXIOUS SPIRIT, C(H)OICE, JUST ANOTHER FUCK, DEFACE, DESASTRE, TÊM TANTAS.....
Alysson - Pessoalmente gosto do Murder (se não fossem certos problemas seria a melhor banda de Goiânia), as outras que citei acima entram nessa, aí tem o Death Slam e o Terror, que são bandas du caralho. Outras de fora seriam Brujeria, Slayer, Sabath, Led, Thaide e Dj Hum, SP Funk, Public Enemy, Rage Against, e por aí vai.
cyber - Existe alguma banda ou algum tipo de evento ou programa ao qual o Corja se recusaria a participar? Segundo - TOCAMOS EM QUALQUER LUGAR, DESDE QUE NÃO SEJA NA GRANDE MÍDIA E COM PESSOAS OU EMPRESAS E INSTITUIÇÕES QUE ACHAMOS NOCIVAS À HUMANIDADE NUM CONTEXTO GERAL. TIPO MULTINACIONAIS E PROGRAMAS DE TV DO ESQUEMÃO GLOBAL...SOMOS UNDERGROUND ATÉ A MORTE.... Daniel - Fora velório, tamo dentro. Alysson - Bandas sexistas, nazistas, estas não rola. Agora evento, acredito que um comício, não iria dar... cyber - O que vocês acham dos rumos que o rock de Goiânia está tomando? Segundo - CARA TÁ LEGAL, O POVO SÓ TEM QUE LEMBRAR SEMPRE QUE AQUI NÃO É LONDRES (VALEU HTS!!!!) Daniel - Eu acho que o rock não tem que tomar rumo nenhum. Tem é que bater a cabeça. O que tá acontecendo aqui e que é terrível a falta de lugar pra tocar. Fora os clássicos DCE e Martim (que estão longe de serem ideais), tudo o que temos são barzinhos efêmeros, freqüentados pela playboyzada, caros e distantes. Falta uma bar de verdade, com um palco de verdade, que queira ganhar dinheiro trabalhando, vendendo, em vez de explorar as bandas que tocam de graça, cobrando dez reais pra ficar dentro de um cubículo ricamente decorado. Alysson - Se ilude como sempre... aqui é cada macaco no seu galho, precisa-se ficar esperto pro tapete não ser puxado. cyber - Com relação ao Corja, quais são as metas que vocês desejam atingir? Segundo - TOCAR EM TODO O PAIS. GRAVAR DISCOS COM UMA DISTRIBUIÇÃO BOA SEM SAIR DO ESQUEMA UNDERGROUND, TIPO BANDAS COMO O RDP, MUKEKA DI RATO, KRISIUN, GARAGE FUZZ, QUE TOCAM EM TODOS OS LUGARES E SÃO RECONHECIDAS E NÃO PRECISAM SE VENDER. Daniel - Desejo sinceramente chegar a gravar um disco de verdade e fazer uma turnê pelo Brasil. Acho que agora isso não está tão distante assim. Só depende de organização e vontade. Alysson - Tocar pelo Brasil afora, já seria de grande valia. cyber - Que mensagem vocês vão deixar para a garotada que curte som pesado? Segundo - NÃO DEIXE SE LEVAR POR RADICALISMOS E MENTE FECHADA, TENHA SEMPRE MENTE ABERTA PRA NOVAS INFLUÊNCIAS, PROCURE SABER SOBRE O QUE SUA BANDA PREFERIDA ESTÁ FALANDO. NÃO SEJA MAIS UM IDIOTA CONSUMISTA, TENHA CONSCIÊNCIA DE QUE O MUNDO PODE MELHORAR COM UM ESFORÇO COLETIVO. FAÇA SUA PARTE, AJUDE A DERRUBAR PRECONCEITOS, VELHAS MORAIS FALHAS E DEMAIS IGNORÂNCIAS. LUTE POR UM MUNDO MELHOR E NÃO SE ALIENE NUM MUNDINHO LIMITADO. FAÇA ALGUMA COISA PRA MELHORAR O AMBIENTE QUE VIVE PREZANDO O RESPEITO, A UNIÃO, A CULTURA, A ÉTICA, A HONESTIDADE E DEMAIS VIRTUDES QUE FALTAM AO SER HUMANO. LUTE, LEIA, PENSE, CONCLUA E AJA..... Daniel - Que continuem sem dar moral pra todo mundo que diz que seu cabelo é feio, que sua roupa é de marginal, que seus amigos são um bando de maconheiros, que suas notas estão baixas, que desse jeito você nunca vai pegar mulher (ou arranjar namorado) e que já está passando a hora de tomar um jeito na vida. Continuem dizendo a eles, com todo o ar dos pulmões: VÃO À MERDA, HIPÓCRITAS. EU QUERO É ROCK! Alysson - Aí moçada, antes de tudo devemos respeitar a diferença, pois de certa forma quem houve um som alternativo, em relação ao comercial, sempre sofre um estigma; portanto, antes de tudo respeitar apesar das críticas e construir uma atitude libertária não só individual mas coletiva; tipo assim, eu respeito o outro, mas tenho minhas ressalvas. Então, é colocar nossas opiniões sempre. Olha, hoje eu devo muito ao underground pois se não fosse ele, talvez eu estaria tendo uma visão de mundo como a que a Rede Globo ou a mídia em geral nos passa. Hoje compreendo um pouco da nossa condição de miséria e subjulgo, portanto não sou subserviente. Acredito que podemos mudar e essa mudança começa dentro de nós, música é liberdade e com ela podemos nos libertar das amarras desse sistema vil e narcísico. Nietzsche lá no século XIX já nos alertava: “A vida sem a música seria um erro”. Alexandre Barbosa |
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Entrevista concedida ou site cybergoias.com em julho de 2003.